Tempestade em copo d’água

Não sei se foram os dias de chuva insistente que me impediram ou se fui eu mesma.

Olhei para fora,

a folha em branco à minha frente, 

sem acrescentar um par de palavras. 

Como se os dias escuros me impedissem de encontrá-las.

Dentro de mim, uma vontade de correr, 

sem querer molhar optei por ficar.

Dentro de casa, 

fiquei sem saber se era eu ou a chuva a culpada.

Escolhi a chuva.

Lá fora, caía fina, quaaase inexistente.

Dentro do meu copo, 

uma tempestade,

com raios, trovões ruidosos

varrendo tudo que via pela frente.

Uma última gota foi suficiente para despencar da mesa e espatifar no chão.

Olhei para os cacos. 

Catei como se fosse eu.

Limpei a bagunça limpa, transparente, perigosa.

É fácil se ferir com as próprias armas.

Bastou uma desatenção para tingir de vermelho a ponta do meu dedo.

O corte não foi profundo.

Tirei dali o caco na hora que senti a dor do intruso, 

assim deveria ser com todas as dores, 

arrancá-las da gente, 

no instante que dói.

Não há razão para deixar incrustada na carne, o que é melhor remover.

Se deixar ali, nunca vai parar de doer.

Eu não sei se alguém aí… 

também se machuca sem querer, com seus próprios pensamentos. 

Eu cansei.

Cansei dessa chuva que cai.

Cansei de ligar para a chuva.

Cansei da folha em branco.

Cansei de fazer tempestade em copo d’água. 

 

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