O encontro da Alma com o Ego

O Ego está sempre elegante, nos dias de encontro marcado ainda mais, de camisa branca engomada, calça risca de giz e sapato de bico mais fino que o usual se olhava no espelho enquanto esperava pela Alma. 

A Alma nunca se apronta, por onde ela passa, ela vai do jeito que está e sempre consegue sem nenhum esforço parecer perfeita para qualquer ocasião. 

Sua casa não tem nem espelho, ela fala que o que faz alguém não é a aparência, mas os sentimentos que carrega. 

O seu encontro com o Ego foi marcado com um objetivo, ela sabia que este era o momento e fez questão de não se atrasar. Os dois nunca foram amigos, mas convivem cordialmente como sócios.

Logo depois de tocar a campainha, pela segunda vez, o Ego abriu a porta, convidou a Alma para entrar e indicou com um gesto onde se sentar. Sentou a sua frente, com certa distância, na poltrona um pouco mais alta que a dela, isso não a fazia se sentir menor, pelo contrário, na sua presença, ele parecia sempre um pouco desconfortável. 

A Alma sabia o que tinha para dizer e foi direto falando que partir de agora ela iria cuidar dos negócios. 

O Ego sorriu sem mostrar os dentes espremendo os olhos e falou :

– Não vejo necessidade dessa intervenção, sigo cuidando muito bem dos negócios e é por isso que temos tanto progresso.

A Alma disse que sim, que havia feito muito progresso, mas que agora as coisas tinham mudado e os princípios até então usados por ele não cabiam mais. 

O Ego pensou, mas como a Alma iria cuidar de tudo sem ele, e perguntou para ela.

A Alma respondeu :

– Se você se afastar neste momento eu te prometo, que com o que tenho para oferecer, a situação se reverterá na melhor de todos os tempos.

Ele sorriu o mesmo sorriso, inclinou para frente, enquanto apoiava o braço e o queixo na mão. E perguntou :

– O que você tem para oferecer Alma? 

A Alma respondeu :

– Tenho para oferecer o meu princípio vital, sou aquela que dá a vida e neste momento é o que mais importa. 

Mantendo o sorrisinho, o Ego se apropriou de toda a poltrona e falou :

– E eu? 

– Sem mim, o que farão? Eu sou o EU. 

Ela responde :

– Por isso, lhe sugiro que tire umas férias, faça uma longa viagem, pois a única forma da gente se salvar no momento é nos transformando em NÓS. 

 

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